Hoje estou lançando oficialmente o nosso "Histórias do Leitor", onde cada um de vocês poderá compartilhar histórias que tenham vivenciado e  que precisem desabafar, falar sobre aqueles momentos que nunca tenham conseguido "colocar para fora" com conhecidos ou psicólogos (nada contra os profissionais, na verdade super a favor dessa área), por algum tipo de medo.
A primeira delas, relata o momento em que a leitora A.E  (diagnosticada com Esquizofrenia) tenta ter uma relação sexual com o namorado no meio de uma "crise". 

  Ele me deu um beijo no rosto e me abraçou, deixando a toalha cair na cama. Eu não sei se ele estava feliz em me ver ou se estava cansado por ter chegado de viagem. Ambos, talvez. Ele foi até o banheiro para pôr alguma roupa. Fechou a porta, mas logo a abriu. Desistiu, e, voltou com a toalha no corpo. Sentou ao meu lado na cama, perguntou o que eu tinha para estar tão quieta. Eu respondi, quase sussurrando, que estava tudo bem, sem olhar para ele, que em alguns segundos depois se levantou, e, foi até a cozinha.
  Tirei os sapatos, e, deitei na cama. Vozes me incomodavam, não me ouviam quando eu pedia para que parassem de falar...


 Eu só queria ficar ali, quieta, esperando passar. Chorei baixinho... talvez nem eu conseguisse me ouvir. Ele voltou ao quarto, deitou na cama. Apesar de eu estar deitada de costas para ele, percebi que me olhava, e, eu desejei que não perguntasse novamente. Beijou meu ombro, tocou minha cintura, me puxou para ele. Eu não sei se eu queria. A certeza que eu tinha era de que a vozes não iriam embora e eu não podia gritar. Olhei-o nos olhos. Beijei-o. Tirou minha blusa, pôs sua mão por baixo da saia. Beijou minhas coxas. Ele estava só com uma toalha, não foi difícil deixá-lo sem ela, puxando-a com um dos meus pés. Ele estava em cima de mim, beijando meu pescoço. E então eu vi. Manchas negras no teto, aumentando de tamanho em segundos. Eu pedi que ele parasse. Olhou para mim. Beijei-o. Ele me abraçou com desejo. Eu não consegui dizer não a ele. Deixei que me tirasse minha roupa. Eu fechava os olhos, na tentativa de não olhar para cima. Eu o senti entrar em mim. Beijou meu seios, apertou minhas coxas. Ele estava excitado o suficiente para não querer parar. Eu não sabia o que fazer.
   Pedi para que deitasse. Talvez, meu corpo por cima do seu me fizesse ter um pouco de prazer. Eu poderia me concentrar no rosto dele, nos meus movimentos. Eu ouvia seus gemidos, ouvia alguém correndo pelo quarto, ouvia vozes sussurrando no meu ouvido. Tentava não desviar a atenção da voz dele. Apoiei minhas mãos em seu peito, olhei-os nos olhos. Pediu para que eu não parasse. Respirei fundo, tentei absorver um pouco do desejo dele, mas, eu nada sentia. Não importa quantos movimentos eu fizesse, o quanto ele me tocasse, o quão forte, e, profundo me penetrasse, eu não conseguia ir além. Nunca soube fingir um orgasmo. Nunca soube pôr para fora o que não sinto. A minha dificuldade em expressar sentimentos meus já preenche todos os espaços, não deixando lugar para o que não se sente.
   Deitei em seu corpo, queria poder chorar. Ele perguntou se estava tudo bem. Eu... nada disse, apenas beijei-o na boca. Ele, de súbito, levantou, puxou minhas coxas, e, me penetrou por trás. Tinha sede, desejo. Beijava minhas costas, tocava meu seios, acelerava seus movimentos. Eu pude sentir um pouco de prazer. 
Deixei escapar um gemido, tímido, breve. Senti um pouco de incômodo quando tocava meu útero, mas não era tão importante a ponto de fazê-lo parar. Eu tentei me permitir mais. Não queria que ele sentisse que eu não estava ali. Contudo, por alguns momentos eu me senti um corpo morto, sem expressão alguma. O pouco do prazer que eu senti desapareceu quando vi alguns espinhos na parede. Abaixei o rosto, chorei sem que ele percebesse. Deixei que terminasse.

   Ele me deu um beijo, me fez deitar em seu peito. Beijei suas mãos. Ele perguntou novamente o que estava acontecendo. Olhou-me confuso, percebendo que eu estava assim desde o começo. Perguntou o motivo de eu não responder. Levantei da cama, ainda chorando. Disse que eu era impossível, e, que não queria aquilo para si. Levantou da cama. Sentei no chão do banheiro e perguntei a mim mesma por que as vozes não iam embora, por que precisavam me perturbar tanto. Ele não voltou para a cama. Eu não voltei ao meu humor normal.
 
Experiência compartilhada pela leitora A.E.


Ps.: O "Histórias do Leitor" não tem o intuito de julgar ninguém, a verdade é justamente o contrário. Nosso objetivo é encontrar pessoas com problemas semelhantes e com isso obter ajuda/aconselhamento/dicas/apoio de quem já viveu/vive a mesma situação.
Mande a sua também para o email: anayldutra@gmail.com